domingo, 18 de agosto de 2019

Contribuo com as instituições, mas não pago por palestra espírita na internet

Estimados amigos,

Alguns companheiros, no momento atual, estão iniciando uma prática que não está de acordo com a Doutrina Espírita.

Refiro-me à cobrança por palestras filmadas e disponibilizadas na internet, nos moldes do Netflix, etc, bem como a tentativa de monetização de vídeos de palestras pelo YouTube.

A alegação para tal cobrança é de que os recursos serão utilizados para dar continuidade aos seus trabalhos, na instituição a que são filiados.

Abaixo explico porque tais argumentos não devem prosperar:

Segundo Emmanuel, a maior caridade que podemos fazer para o Espiritismo é a sua divulgação.

Se Jesus estivesse encarnado hoje, com certeza utilizaria, também, a internet para difundir os seus ensinos de forma abrangente, por todo o mundo e gratuitamente, porque eu não imagino Jesus cobrando por seus ensinos.

“Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do Evangelho: Dai de graça o que de graça recebestes” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 26).
“Os médiuns atuais - pois que também os apóstolos tinham mediunidade - igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, não para lhes vender palavras que não lhes pertencem, a eles médiuns, visto que não são fruto de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais. Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: não tenho fé, porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os encorajamentos e os testemunhos de afeição dos que pranteio, porque sou pobre. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 26, item 7)

Em geral, as palestras são intuídas mediunicamente. Divaldo Franco, no Livro Primícias do Reino, 12 Ed, 2015, na pag 10, datada de 26 de fevereiro de 1967, diz “Qual acontece nas palestras, a produção escrita por meu intermédio é sempre ditada pelos benfeitores desencarnados.”

Se alguma instituição necessita de recursos deve pedir aos seus associados ou simpatizantes as doações necessárias para a execução de seus projetos, como sócio-contribuintes, ou vendendo livros, dvd, produtos oriundos do artesanato da casa, etc.

Sendo bem prático e honesto:
- um domínio na internet, que é o nome do site, custa atualmente R$ 35,00 por ano, sendo que no primeiro ano custa apenas R$ 6,99;
- a hospedagem do site na internet com certificado de segurança, tem o custo, em provedores de alta qualidade R$ 50,00 por ano (a hospedagem é onde o usuário deposita todo o conteúdo do seu site);
- agora se você deseja colocar seu vídeo no YouTube, melhora ainda mais, porque é totalmente de graça. Você pode fazer um canal, ou mais de um, sem necessitar pagar nada;
- hoje você pode filmar uma palestra até com celular e a filmagem fica excelente e depois pode pedir a qualquer jovem de sua instituição para fazer as edições com programas gratuitos, coloca na Internet e pronto;

Ou seja, não é dispendioso fazer este trabalho, basta ter vontade e mãos operosas para o trabalho, porque como nós vimos o custo de tudo isso fica por ano em cerca de R$ 60,00, lembrando que se optar pelo YouTube é totalmente de graça.

A Palestra é disseminação do Evangelho, inspirada pelos mentores espirituais. Podemos cobrar? Já vimos que não. “Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do Evangelho: Dai de graça o que de graça recebestes” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 26).

Ainda alguns dão a desculpa do custo na produção dos vídeos, mas qualquer adolescente dessas instituições, hoje em dia, faz edições primorosas com os recursos existentes.

Compreendo a posição de destes, por falta de conhecimento, estão sendo enredados por outros companheiros e se deixam levar por esta atitude desleal da cobrança, manchando o nome do Espiritismo.

Jesus não cobraria nem um centavo, por nenhum ensino dele. Nem ele e nem seus apóstolos. 

Certamente ele não diria:
- Este conteúdo é para pagantes e este conteúdo é para não pagantes, ou, ainda, acesse esse conteúdo por R$ 19,99.

Lembremos que a remuneração da maioria da população que tem acesso a internet gira em torno de R$ 1.000,00, com os quais tem que arcar com vestimenta, energia elétrica, água, aluguel, medicamentos, comida, etc e num orçamento destes gastar R$ 25,00 por mês para acesso a religião, que deve ser gratuita, faz muita diferença.

Como exemplo, vou lembrar que os evangélicos, em uma de suas principais denominações, tem site totalmente gratuito com tv e palestras em diversas categorias (tvcpad).

Os católicos da mesma forma (respostacatolica) com um site que tem 1.964 vídeos totalmente de graça.

A Igreja dos Santos dos Últimos dias tem um canal no YouTube brasileiro quase 400.000 inscritos e filmes de altíssima qualidade sobre o novo testamento, que alguns chegam a ter mais de 1.900.000 visualizações.

Esta mesma igreja, no canal do YouTube americano, tem 1.300.000 inscritos. O canal deles não é monetizável. Se fosse, renderia mais de R$ 2.000.000,00 por ano (https://www.youtube.com/watch?v=Qq7NFiZL6ak&list=PLVmzv2RTGVDEoGci2AR5jKbP9DcAlYfEy).

E nós espíritas indo na direção contrária. Imagine-se a repercussão no plano espiritual dessas decisões infelizes.

O espírita de baixa renda necessita também, assim como o mais abastado, de ter acesso a boas palestras sem ter a necessidade de pagar.

Nosso estimado Divaldo Franco nos falou, em suas últimas palestras, que devemos chegar aos “invisíveis” da sociedade (humildes, sem conhecimento de religião, etc). Chegaremos até eles como? Cobrando?

A internet é o maior meio de divulgação evangélico/espiritual que nós temos atualmente.

Vamos mais sério agora: nestes mesmos veículos de informação, especialmente redes sociais na Internet e páginas que oferecem conteúdo de todas as naturezas, inclusive sobre drogas e sexo, são oferecidos conteúdos sem nenhum custo para o visitante.

De forma totalmente gratuita nós vamos encontrar:
- músicas sem conteúdo, oferecidas pelas próprias gravadoras, com 1,5 bilhão de visualizações por música;
- filmes pornográficos, também gratuitos, chegando facilmente a 50 milhões de visualizações cada;
- novelas, programas de entrevista e humorísticos, relembrando, totalmente de graça; e
- palestras espíritas, que "quando muito vistas” chegam a 25 mil visualizações.

Os três maiores sites pornográficos do mundo tem, gratuitamente, cerca de 11milhões de vídeos pornográficos cada um.

Ou seja, é muito mais fácil assistir um vídeo pornográfico ou outro material de baixa qualidade, que é disseminado por vários canais ao mesmo tempo, do que assistir a um vídeo espírita, que muitas vezes estão em canais que cobram para se ter acesso a eles.

O prejuízo causado é de todo o Movimento Espírita, mas com relação a isso cada qual dará conta de sua administração a Deus.

Devemos professar o que pregamos, e fazer o que nós professamos, para não ser letra morta naquilo que escrevemos ou palavras vazias, naquilo que falamos.

Estes pequenos textos, extraídos do livro Entrega-te a Deus (1ª Ed, 2010) do Espírito Joanna de Ângelis, psicografado pelo médium Divaldo Franco, são muito valiosos para o momento:
"Ante a avalanche de obras de degradação humana, de vulgaridade e de banalização da vida e dos valores morais, torna-se necessário que se encontrem obras que possam diminuir o efeito pernicioso daquelas que corrompem e ensandecem." (pag 13)
"Com as facilidades adquiridas pelas conquistas da ciência e da tecnologia, que tornaram o mundo uma aldeia global, conforme se referem muitos comunicadores, os obstáculos ao bem estão sendo diluídos pelos recursos advindos desses notáveis instrumentos, especialmente os de natureza virtual..." (pag 112)

Aí eu acrescento também, se o mal vem da Internet, devemos diluí-lo também pela Internet. Se o mal vem de graça, o bem também deve vir de graça.

Se a instituição necessita de recursos financeiros deve solicitá-lo aos seus integrantes, mas não deve vender a palestra, que é a mensagem evangélica.

A mensagem evangélica deve ser divulgada ao máximo em todos e quaisquer canais, pois, caso contrário, estaríamos fazendo como a Igreja Católica fez no passado, ao permitir que somente “alguns” tivessem acesso aos livros da Bíblia.

A mensagem evangélica, na internet, não é para ser vendida, principalmente porque a internet é o maior meio de divulgação que nós temos atualmente. É como se fosse a voz de Jesus ecoando em todos os campos do mundo.

Jesus não distinguiu conteúdo do evangelho para pagantes e para não pagantes.

Para mim essas ideias de cobrança não são dos atuais missionários espíritas, mas de seus auxiliares que conhecem tecnologia, mas não tem conhecimento humano nem vivência espiritual suficientes e acabam arrastando e maculando o nome dos verdadeiros religiosos que são empurrados por estes caminhos sem saber.

Neste momento de transição planetária, em que nós estamos chegando a um mundo de regeneração, será assim o meio correto de divulgar a Doutrina Espírita? Cobrando pela mensagem evangélica?

Por isso, contribuo com as instituições, mas não pago por palestra espírita na internet.

Renato Siqueira
(renatosiqueira22@gmail.com)