A Reunião
pública
Objetivos
O Centro
Espírita, sendo um posto avançado da Espiritualidade na Terra, no dizer dos
Espíritos, tem que se preparar para desempenhar essa tarefa a contento. Sabe-se
que as pessoas que buscam auxílio nos centros espíritas o fazem através das
reuniões públicas. Isso faz desta atividade uma das mais graves da casa
espírita e tem que se ter o maior cuidado em elaborá-la, pois do seu bom
desempenho dependerá a maior ou menor afluência das pessoas aos centros, e,
consequentemente, ao contato com a Doutrina Espírita.
O objetivo
do Centro Espírita deve ser o de levar às pessoas a mensagem do Mestre Jesus, à
luz do Espiritismo. Através desses ensinamentos o homem se instrui, se encontra
e se reeduca, reformando conceitos e modificando hábitos, tendo
consequentemente melhor qualidade de vida. Essa deve ser a tarefa maior das
casas que se propõem a trabalhar na seara do Cristo. Diz Allan Kardec que
uma religião que não servir para transformar o homem para nada serve.
Necessário, portanto, se observar com cautela todos os ensinamentos que estão
sendo ministrados nas reuniões públicas, pois deles dependem a libertação de
muitos.
Público
alvo
O público
que frequenta as reuniões públicas dos centros espíritas é bastante heterogêneo
e flutuante. No trabalho que se vai desenvolver com ele há que se considerar
duas coisas: o frequentador e o trabalhador da casa. Em uma casa bem organizada
e que se fundamenta nas orientações de Allan Kardec, as determinações em torno
desses dois grupos se encontram bem claras, o que facilita o trabalho a ser
realizado nas reuniões públicas. Este é voltado basicamente para os
frequentadores, pois os trabalhadores têm suas atividades de estudos em dias
determinados, o que lhes possibilita o preparo para estar na lide diária da
casa.
As pessoas
vão ao Centro Espírita, na grande maioria das vezes, em busca de auxílio. Quase
ninguém vai à casa pela primeira vez por amor à causa, uma vez que nem conhecem
a Doutrina. Vão porque estão angustiados, desesperançados, insatisfeitos,
perdidos nesse emaranhado de coisas que o materialismo exige das pessoas. A
reunião, pois, deve atender aos anseios essas criaturas, tendo como proposta
fundamental trazer-lhes mensagens de ânimo, coragem, fé e consolo.
Tema das
palestras
Este é um
dos assuntos mais importantes quando se vai organizar as atividades
doutrinárias da casa espírita. Grande parte dos problemas de quem busca o
Centro Espírita podem ser minimizados com um tema doutrinário bem colocado.
Portanto, o cuidado na escolha dos temas das palestras é de fundamental
importância e faz toda a diferença no fato de despertar ou não o interesse dos
necessitados para retornar à casa. Levando-se em consideração a realidade
de que as pessoas estão em busca de auxílio, os temas deverão ser baseados nos
ensinamentos da moral cristã, tendo como guia o Evangelho de Jesus.
Temas
instrutivos fundamentados na filosofia, ministrados a pessoas que mal conhecem
os ensinamentos do Cristo, dificilmente surtirão efeito se não atingir a
“ferida” moral que se encontra aberta. Os temas evangélicos costumam tocar em
maior profundidade o coração das criaturas e, como somos seres necessitados de
ajustes em muitas áreas, dificilmente terá um assunto ligado ao Evangelho que
não nos diga respeito. Além do mais, o bom senso nos diz que primeiro devemos
evangelizar para depois então kardequizar.
Aqueles que,
dentre o público, quiserem conhecer mais a fundo a Doutrina Espírita serão
encaminhados aos cursos de instrução que a casa deve oferecer, fundamentados na
doutrina básica. Muitos centros adotam o Estudo Sistematizado desenvolvido pela
Federação Espírita Brasileira – FEB e outros desenvolvem seus próprios métodos.
A casa deve ter sua programação de oratória, tendo o cuidado de não permitir
que sejam feitas palestras com temas desconhecidos dos dirigentes, para evitar
surpresas desagradáveis. Às vezes, invigilâncias dessa ordem trazem grandes
prejuízos aos trabalhos espirituais. Expositores despreparados, em certas
ocasiões, podem passar uma idéia errônea do que seja o Espiritismo.
Abordagem
A abordagem
é o segredo de uma boa palestra. Uma abordagem bem feita deixa uma boa
impressão e desperta o interesse das pessoas para se aprofundarem no tema.
Faz-se necessário conhecer o público que normalmente frequenta a casa e
preparar a palestra de acordo com o nível intelectual dos ouvintes. De nada
adianta falar bonito, usando de erudição, se não atingir os objetivos de ser
entendido. Sobre isto nos instrui Paulo em Coríntios I-14.19: “…prefiro falar
na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar
dez mil em outras línguas”.
Essa
advertência era para os que falavam em línguas estranhas e não edificavam, pois
ninguém entendia coisa alguma. Os expositores devem lembrar da importância da
abordagem de temas atuais, sempre desenvolvidos à luz da Doutrina Espírita,
dando um enfoque especial ao chamamento da criatura aos interesses espirituais.
Outra coisa que deve ser observada pelos expositores é o cuidado em não fazer
comentários que possam ferir outras religiões, pois, além de ser extrema
falta de educação, a maior parte do público flutuante pertence a outras crenças
que obviamente devem ser respeitadas. Essas pessoas nem sempre pretendem deixar
suas religiões. Podem estar temporariamente, em busca de auxílio e, logo que se
sintam confortadas, voltarão para a normalidade de suas vidas.
Tempo de
exposição
Não há nada
mais desagradável para o ouvinte em uma palestra do que a sensação de que ela
não acaba nunca. Se for uma palestra pouco produtiva, pode-se ter um “sono
coletivo”. Se não tivermos a humildade de avaliar nossos métodos, provavelmente
colocaremos a culpa nos Espíritos obsessores da platéia, o que nem sempre é
verdade. O tempo de exposição deve ser informado ao palestrante, caso ele seja
um visitante. O ideal é que não exceda 40 minutos. Mais do que isso cansa o
público e os resultados em termos de assimilação da mensagem ficarão
prejudicados. Palestrantes que falam muito devem se adequar ao tempo dado pela
casa.
Devemos
deixar o hábito de, para agradar o irmão que nos visita, dizer que fale o tempo
que quiser. Isso pode criar situações de constrangimento para quem fala e de
desconforto para quem ouve.
Perfil do
expositor
A casa
espírita deve ter entre seus trabalhadores um grupo de pessoas preparadas para
a tarefa da oratória. Isso é fator essencial para que se obtenha bons
resultados nos trabalhos doutrinários. Não podemos montar um esquema de
palestras contando só com irmãos de outros centros. Afinal, todos têm suas
ocupações. Evidente que se pode convidar outras pessoas, para que uma ou duas
vezes por mês, visitem a sociedade para ministrar palestras, mas que se faça
isso dentro de um critério lógico. O expositor tem a grave incumbência de
levar ao povo a mensagem de Jesus e os ensinamentos da Doutrina Espírita. Para
tanto, tem que se preparar e se fundamentar sempre no bom exemplo.
Não podemos
falar do que não vivenciamos, afinal o exemplo é força moral. Teoricamente
qualquer pessoa pode assumir essa tarefa de falar publicamente e isso acontece
em muitos centros espíritas. Mas o bom senso nos diz que nem todos estão
preparados ou possuem o dom para desempenhar satisfatoriamente esse papel. Que
cada um se desenvolva dentro das possibilidades apropriadas aos dons que Deus
lhe concedeu. Em todos os setores da vida nos preparamos para desempenhar
determinadas tarefas e a qualidade delas dependerá do nosso empenho em fazer a
coisa bem feita e cada vez melhor. Na casa espírita não pode e nem deve
ser diferente.
E, como
estamos lidando com situações mais sérias e graves, faz-se mister um preparo
cuidadoso, principalmente na área moral, pois o trabalho de edificação do ser é
tarefa que não podemos desenvolver com doutrinas de aparências. Não existe um
perfil ideal do orador espírita, mas se fôssemos traçar um perfil mais
adequado, poderíamos simplificar nas seguintes palavras: simplicidade e objetividade
na arte de se comunicar e vida o mais reta e digna possível.
Resultados
Como em todo
trabalho desenvolvido nas casas espíritas, a oratória também necessita de
avaliações para sabermos quais os resultados e definir novos rumos. Uma maneira
simples de avaliar este trabalho é observando a frequência do público nas
reuniões públicas. Se elas estiverem se esvaziando o problema está na forma
como a casa conduz a explanação da palavra. Esse assunto tem que ser estudado
com carinho para que o centro espírita possa cumprir com seu papel de agente
transformador, na sublime tarefa de despertar o homem para as coisas essenciais
da vida.
Não se pode
fechar os olhos quando nossa casa não tem público. A história corrente no meio
espírita de que não faz diferença ter ou não público, pois as reuniões estão
cheias de desencarnados, não faz o menor sentido e fica por conta dos que
procuram uma justificativa para não submeter seus trabalhos a exames. Deixar
como está para ver como fica pode resultar em perda de precioso tempo. Façamos,
pois, uma reflexão em torno disso.
Observações
– Não se
deve utilizar do recurso das pequenas palestras antes da exposição da noite.
Isso atrapalha muito o orador, quando não acontece de antecipar o assunto de
sua palestra.
– Os avisos,
se houver, devem ser dados antes do início da reunião pública. Quando dados
depois, prejudicam o clima de harmonia estabelecido pelo assunto ministrado e
afastam a pessoa de sua reflexão em torno do mesmo.
– Os passes
devem ser ministrados após a exposição. O hábito que muitas casas têm de
trabalhar com o passe antes ou durante as palestras tumultua o ambiente, além
de tirar da pessoa a oportunidade de receber instruções através dos
ensinamentos ali ministrados.
– Deve-se
evitar o hábito de entoar hinos, fazendo o público participar. Não podemos nos
esquecer que uma reunião pública é, acima de tudo, uma sessão de estudos
doutrinários destinados ao povo. Os hinos são resquícios que trazemos de nossas
crenças de origem e muitas vezes obedecem verdadeiros rituais. Deveriam ser
abolidos das reuniões públicas.
– As preces
devem ser claras, curtas e objetivas. As exortações longas e cheias de
rebuscamentos de linguagem podem não atingir os objetivos, além de prejudicar o
recolhimento necessário nessa hora de comunhão com o mundo espiritual.
– Quando o
orador for de outra casa espírita, sua apresentação deve ser feita pelo
dirigente da casa, usando de referências objetivas e diretas, evitando-se as
exaltações personalistas.
– Evitar
sempre tecer comentários sobre a palestra que acabou de ser proferida. Lembrar
que ali foi feito um trabalho de conscientização do público, secundado pelos
bons Espíritos. Esse hábito, na maioria das vezes, põe por terra todo o esforço
do expositor em levar às pessoas a mensagem libertadora do Espírito.
Vanda Maria
Simões
(extraído
do site https://espirito.org.br/palestras/reuniao-publica/)