domingo, 11 de agosto de 2024

São Jerônimo

No próximo dia 30 de setembro, celebramos a memória litúrgica de São Jerônimo. Esse santo foi o tradutor da bíblia do hebraico e grego para o latim. Da mesma forma que autores sagrados foram inspirados por Deus para escreverem os livros originais, com certeza São Jerônimo foi inspirado por Deus e iluminado pelo Espírito Santo para traduzir os livros da bíblia para o latim. Ele é patrono dos estudos bíblicos.

O dia de São Jerônimo encerra as comemorações do Mês da Bíblia. Neste ao aprofundamos o livro de Josué com o tema: “O Senhor teu Deus estará contigo onde quer que vás “. O mês de setembro é o Mês da Bíblia, justamente, porque o último dia do mês é dedicado a São Jerônimo. Que São Jerônimo nos inspire a ter o mesmo amor que ele tinha pelas Sagradas Escrituras. Meditemos a Palavra de Deus não somente no mês de setembro, mas durante todos os dias do ano. Interpretemos sob a luz do Espírito do Santo os textos sagrados e que a nossa vida possa ser direcionada a partir desses textos.

São Jerônimo é celebrado como presbítero e doutor da Igreja. Ele foi exegeta, ou seja, estudava e interpretava os textos sagrados. São Jerônimo nasceu em Dalmácia, no ano de 342. Era conhecido como filósofo, teólogo, retórico, gramático, dialético, historiador, exegeta e foi declarado doutor da Igreja. Mesmo com todos esses atributos, São Jerônimo não se envaidecia, mas tinha uma vida simples e amava muito os seus semelhantes. São Jerônimo tinha uma célebre frase que dirigia aos seus fiéis e a quem o escutava: “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”. A Sagrada Escritura tem seu fundamento em Jesus Cristo. Ele é o verbo encarnado e os profetas no Antigo Testamento previram a sua chegada.

Após a morte de seus pais e com posse da herança, Jerônimo partiu em busca de realizar o seu desejo de se aprofundar nos estudos. Jerônimo foi para Roma, cidade eterna, e aproveitou para visitar as catacumbas, onde contemplava as capelas e se esforçava para decifrar os escritos nos túmulos dos mártires. Durante a sua estadia em Roma, Jerônimo se converteu ao cristianismo, pois ainda não havia recebido o batismo. Certa noite, ele teve um sonho, no qual era repreendido pelo próprio Jesus, pois estava faltando com a verdade. Ele, de fato, ainda não tinha abraçado as Sagradas Escrituras, mas somente os escritos pagãos. Ao final de sua permanência em Roma, ele foi batizado.

Após a sua conversão, iniciou os seus estudos teológicos e decidiu fazer uma peregrinação a Terra Santa. Jerônimo foi acometido por uma grave doença e teve que permanecer em Antioquia. Optando por uma vida de penitência, contemplação e quietude, Jerônimo decide ir para o deserto e se estabelece em Cálcida, com o intuito de optar por uma vida de eremita, ou seja, uma vida de oração e contemplação, retirado do meio da cidade.

Jerônimo ordenou-se sacerdote em 379 d.C, após isso, acompanhou o bispo Paulino a um Concílio Regional em Roma. Foi apresentado ao Papa Dâmaso como um exegeta e profundo conhecedor das linguagens bíblicas. O Papa o escolheu para ser seu secretário em 382 d.C. O Papa lhe deu a incumbência de revisar uma tradução dos quatro evangelhos em latim. Ele concluiu esse trabalho antes da morte do Papa (384), ainda acrescentou uma versão dos salmos, traduzida do grego, que ficou conhecida com Septuaginta.

Ele foi expulso de Roma em 385, após a morte do Papa, e foi para Belém, na Terra Santa, onde teve contato com a versão hebraica da Sagrada Escritura, que compunha o Antigo Testamento. Jerônimo se interessou pelo texto e começou a trabalhar em sua revisão. Ele começou a comparar os textos em hebraico e os salmos que já havia traduzido do grego e começou a traduzir esses textos para o latim.

Esse trabalho levou alguns anos, aproximadamente 15, de 390 a 405, incluindo uma nova tradução dos salmos feita somente do texto em hebraico. A tradução dos textos bíblicos do hebraico para a língua latina ficou conhecida como “vulgata”, ou seja, língua vulgar ou comum. A versão “vulgata” era a única versão oficial usada na Igreja até o ano de 1530, pois a partir de então, começou a tradução para as línguas modernas, devido ao fato do povo não falar mais o latim.

Durante a tradução dos textos bíblicos, São Jerônimo encontrou passagens difíceis de serem compreendidas e traduzidas, por isso, após esse trabalho, ele deixou escrito prefácios e comentários sobre os textos da Sagrada Escritura. Muitas vezes esse prefácio ou esses comentários são as notas de rodapé que costumam vir em nossa Bíblia. Essas notas de rodapé nos ajudam a compreender aquele texto que acabamos de ler.

São Jerônimo morre no ano de 419 e não chegou a ver a vulgata ser publicada. Isso só ocorreu quando foi possível reunir todos os textos traduzidos por ele. Além disso, a vulgata não foi imposta na Igreja, mas os textos foram sendo introduzidos aos poucos, na medida em que se

compreendia os textos traduzidos por ele e comparados com os textos que havia na época.

Ao longo do tempo, a vulgata foi recebendo pequenas correções, até chegar naquilo que temos hoje. A vulgata como conhecemos hoje foi publicada pelo Papa Clemente VIII, no ano de 1592, por isso, ela se tornou conhecida como “Vulgata Clementina”.

Por fim, em homenagem a São Jerônimo, a Igreja o declarou padroeiro de todos aqueles que se dedicam ao estudo das Sagradas Escrituras e fixou o Dia da Bíblia no mês de seu aniversário de morte. Aqui no Brasil celebramos esse dia no domingo que antecede à sua memória.

Peçamos que São Jerônimo interceda por nós e, iluminados pelo Espírito Santo, possamos compreender os textos sagrados e traduzi-los para a nossa vida com o olhar da fé. Que possamos nutrir o mesmo amor pelas Sagradas Escrituras que São Jerônimo tinha.


Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

https://www.cnbb.org.br/sao-jeronimo-2/

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

São Jerônimo e a primeira tradução da Bíblia dos textos originais

Em 386 São Jerônimo se estabeleceu nas proximidades da Basílica da Natividade, para dedicar-se ao estudo da Bíblia. A ele se deve a célebre versão latina (Vulgata), que mais tarde se tornou oficial na Igreja do Ocidente e de suma importância para a transmissão das Escrituras.

Próximo à gruta da Natividade estão as grutas de São José, dos  Santos Inocentes  e a gruta de São Jerônimo onde ele dedicou  mais de 40 anos à tradução dos textos bíblicos originais, do hebraico e do grego, para o latim. Descrever São Jerônimo não é tarefa fácil.

Dálmata de cultura enciclopédica, se retirou no deserto próximo a Antioquia, berço do cristianismo, vivendo em penitência. Depois, tornando-se sacerdote, iniciou uma intensa atividade literária. Em Roma foi colaborador do Papa Dâmaso. Após sua morte, Jerônimo retirou-se para Belém.

A Bíblia de Gutenberg, em 1456, foi o primeiro livro impresso da história. Para esta primeira edição foi escolhida justamente a Vulgata de São Jerônimo.

Lurdinha Nunes  - Vatican News



domingo, 20 de novembro de 2022

Cristo está no Leme

Nota: Esta mensagem, consta do Livro Instruções psicofônicas (Chico Xavier), transmitida em 02/06/1955, em Pedro Leopoldo, e também psicograficamente, por quê? - A equipe de trabalho gravava as mensagens, porém o gravador enguiçou. Todos ficaram tristes por perderem a instrução do benfeitor ilustre. O grupo se dispersou, permanecendo apenas algumas pessoas e depois de cerca de uma hora, o espírito amigo José Xavier, se fez presente ao Chico e disse que se reunissem e aguardasse porque ele e a Meimei haviam gravado, que ela comandaria o gravador e ele iria ditando a pontuação para melhor serviço. E assim através da psicografia do Chico foi recuperada a mensagem.


Meus amigos, que o amparo de Nossa Mãe Santíssima nos agasalhe e ilumine os corações.

Cristo, no centro da edificação espírita, é o básico para quantos esposaram em nossa Doutrina o ideal de uma vida mais pura e mais ampla.

Confrange a quantos já descerraram os olhos para a verdade eterna, além da morte, o culto da irresponsabilidade a que muitos de nossos companheiros se devotam, seja na dúvida sistemática ou na acomodação com os processos inferiores da experiência humana, quando o Espiritismo traduz retorno ao Cristianismo puro e atuante, presidindo à renovação da Terra.

Com todo o nosso respeito a pesquisa enobrecedora, cremos seja agora obsoleto qualquer indagação acerca da sobrevivência da alma por parte daqueles que já receberam o conhecimento doutrinário, porque semelhante conhecimento é precisamente o selo sagrado de nossos compromissos diante do Senhor.

Há mais de dez milênios, nos templos do alto Egito e da antiga Etiópia, os fenômenos mediúnicos eram simples e correntios; entre Assírios e Caldeus de épocas remotíssimas, praticava-se a desobsessão com alicerces no esclarecimento dos Espíritos infelizes; precedendo a antiguidade clássica, Zoroastro, na Pérsia, recebia visitação de mensageiros celestiais e, também antes da era cristã, na velha China, a mediunidade era desenvolvida com a colaboração da música e da prece.

Mas o intercâmbio com os desencarnados, excetuando-se os elevados ensinamentos nos santuários, guardava a função oracular do magismo, entremeando-se nos problemas corriqueiros da vida material, fosse entre guerreiros e filósofos, mulheres e comerciantes, senhores e escravos, nobres e plebeus.

É que a mente do povo em Tébas e Babilônia, Persépolis e Nanquim, não contavam com o esplendor da Estrela Magna – Nosso Senhor Jesus Cristo-, cujo reino de amor vem sendo levantado entre os homens.

Na atualidade, porém, o Evangelho brilha na cultura mundial, ao alcance de todas as consciências, cabendo-nos simplesmente o dever de anexá-lo à própria vida.

Espiritas! Com Allan Kardec, retomastes o facho resplendente da Boa Nova, que jazia eclipsado nas sombras da Idade Média.

Compreendamos nossa missão de obreiros da luz, cooperando com o Senhor na construção do mundo novo.

Não ignorais que a civilização de hoje é um grande barco sob a tempestade... Mas, enquanto mastros tombam oscilantes vigas mestras, aos gritos da equipagem desarvorada, ante a metralha que incendeia a noite moral do mundo, Cristo está no leme!

Servindo-o, pois, infatigavelmente, repitamos, confortados e felizes:

Cristo ontem, Cristo hoje, Cristo amanhã!...

Louvado seja o Cristo de Deus!!

Bitencourt Sampaio

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Política no âmbito espírita - Revista Espírita, 1862

 

“[…] Devo ainda vos chamar a atenção para outra tática de nossos adversários: a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da Doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua competência e que poderiam, com toda razão, despertar suscetibilidades e desconfianças. Também não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto disser respeito à política e às questões irritantes; nesse caso, as discussões não levarão a nada e apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém questionará a moral, quando ela for boa. Procurai, no Espiritismo, aquilo que vos pode melhorar; eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente úteis serão uma consequência natural. […]

Allan Kardec Revista Espírita, fev. 1862.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Como deve ser a Reunião Pública no Centro Espírita

 

A Reunião pública

 

Objetivos

O Centro Espírita, sendo um posto avançado da Espiritualidade na Terra, no dizer dos Espíritos, tem que se preparar para desempenhar essa tarefa a contento. Sabe-se que as pessoas que buscam auxílio nos centros espíritas o fazem através das reuniões públicas. Isso faz desta atividade uma das mais graves da casa espírita e tem que se ter o maior cuidado em elaborá-la, pois do seu bom desempenho dependerá a maior ou menor afluência das pessoas aos centros, e, consequentemente, ao contato com a Doutrina Espírita.

O objetivo do Centro Espírita deve ser o de levar às pessoas a mensagem do Mestre Jesus, à luz do Espiritismo. Através desses ensinamentos o homem se instrui, se encontra e se reeduca, reformando conceitos e modificando hábitos, tendo consequentemente melhor qualidade de vida. Essa deve ser a tarefa maior das casas que se propõem a trabalhar na seara do Cristo.  Diz Allan Kardec que uma religião que não servir para transformar o homem para nada serve. Necessário, portanto, se observar com cautela todos os ensinamentos que estão sendo ministrados nas reuniões públicas, pois deles dependem a libertação de muitos.

Público alvo

O público que frequenta as reuniões públicas dos centros espíritas é bastante heterogêneo e flutuante. No trabalho que se vai desenvolver com ele há que se considerar duas coisas: o frequentador e o trabalhador da casa. Em uma casa bem organizada e que se fundamenta nas orientações de Allan Kardec, as determinações em torno desses dois grupos se encontram bem claras, o que facilita o trabalho a ser realizado nas reuniões públicas. Este é voltado basicamente para os frequentadores, pois os trabalhadores têm suas atividades de estudos em dias determinados, o que lhes possibilita o preparo para estar na lide diária da casa.

As pessoas vão ao Centro Espírita, na grande maioria das vezes, em busca de auxílio. Quase ninguém vai à casa pela primeira vez por amor à causa, uma vez que nem conhecem a Doutrina. Vão porque estão angustiados, desesperançados, insatisfeitos, perdidos nesse emaranhado de coisas que o materialismo exige das pessoas. A reunião, pois, deve atender aos anseios essas criaturas, tendo como proposta fundamental trazer-lhes mensagens de ânimo, coragem, fé e consolo.

Tema das palestras

Este é um dos assuntos mais importantes quando se vai organizar as atividades doutrinárias da casa espírita. Grande parte dos problemas de quem busca o Centro Espírita podem ser minimizados com um tema doutrinário bem colocado. Portanto, o cuidado na escolha dos temas das palestras é de fundamental importância e faz toda a diferença no fato de despertar ou não o interesse dos necessitados para retornar à casa.  Levando-se em consideração a realidade de que as pessoas estão em busca de auxílio, os temas deverão ser baseados nos ensinamentos da moral cristã, tendo como guia o Evangelho de Jesus.

Temas instrutivos fundamentados na filosofia, ministrados a pessoas que mal conhecem os ensinamentos do Cristo, dificilmente surtirão efeito se não atingir a “ferida” moral que se encontra aberta. Os temas evangélicos costumam tocar em maior profundidade o coração das criaturas e, como somos seres necessitados de ajustes em muitas áreas, dificilmente terá um assunto ligado ao Evangelho que não nos diga respeito. Além do mais, o bom senso nos diz que primeiro devemos evangelizar para depois então kardequizar.

Aqueles que, dentre o público, quiserem conhecer mais a fundo a Doutrina Espírita serão encaminhados aos cursos de instrução que a casa deve oferecer, fundamentados na doutrina básica. Muitos centros adotam o Estudo Sistematizado desenvolvido pela Federação Espírita Brasileira – FEB e outros desenvolvem seus próprios métodos. A casa deve ter sua programação de oratória, tendo o cuidado de não permitir que sejam feitas palestras com temas desconhecidos dos dirigentes, para evitar surpresas desagradáveis. Às vezes, invigilâncias dessa ordem trazem grandes prejuízos aos trabalhos espirituais. Expositores despreparados, em certas ocasiões, podem passar uma idéia errônea do que seja o Espiritismo.

Abordagem

A abordagem é o segredo de uma boa palestra. Uma abordagem bem feita deixa uma boa impressão e desperta o interesse das pessoas para se aprofundarem no tema. Faz-se necessário conhecer o público que normalmente frequenta a casa e preparar a palestra de acordo com o nível intelectual dos ouvintes. De nada adianta falar bonito, usando de erudição, se não atingir os objetivos de ser entendido. Sobre isto nos instrui Paulo em Coríntios I-14.19: “…prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil em outras línguas”.

Essa advertência era para os que falavam em línguas estranhas e não edificavam, pois ninguém entendia coisa alguma. Os expositores devem lembrar da importância da abordagem de temas atuais, sempre desenvolvidos à luz da Doutrina Espírita, dando um enfoque especial ao chamamento da criatura aos interesses espirituais. Outra coisa que deve ser observada pelos expositores é o cuidado em não fazer comentários que possam ferir outras religiões, pois, além de ser  extrema falta de educação, a maior parte do público flutuante pertence a outras crenças que obviamente devem ser respeitadas. Essas pessoas nem sempre pretendem deixar suas religiões. Podem estar temporariamente, em busca de auxílio e, logo que se sintam confortadas, voltarão para a normalidade de suas vidas.

Tempo de exposição

Não há nada mais desagradável para o ouvinte em uma palestra do que a sensação de que ela não acaba nunca. Se for uma palestra pouco produtiva, pode-se ter um “sono coletivo”. Se não tivermos a humildade de avaliar nossos métodos, provavelmente colocaremos a culpa nos Espíritos obsessores da platéia, o que nem sempre é verdade. O tempo de exposição deve ser informado ao palestrante, caso ele seja um visitante. O ideal é que não exceda 40 minutos. Mais do que isso cansa o público e os resultados em termos de assimilação da mensagem ficarão prejudicados. Palestrantes que falam muito devem se adequar ao tempo dado pela casa.

Devemos deixar o hábito de, para agradar o irmão que nos visita, dizer que fale o tempo que quiser. Isso pode criar situações de constrangimento para quem fala e de desconforto para quem ouve.

Perfil do expositor

A casa espírita deve ter entre seus trabalhadores um grupo de pessoas preparadas para a tarefa da oratória. Isso é fator essencial para que se obtenha bons resultados nos trabalhos doutrinários. Não podemos montar um esquema de palestras contando só com irmãos de outros centros. Afinal, todos têm suas ocupações. Evidente que se pode convidar outras pessoas, para que uma ou duas vezes por mês, visitem a sociedade para ministrar palestras, mas que se faça isso dentro de um critério lógico.  O expositor tem a grave incumbência de levar ao povo a mensagem de Jesus e os ensinamentos da Doutrina Espírita. Para tanto, tem que se preparar e se fundamentar sempre no bom exemplo.

Não podemos falar do que não vivenciamos, afinal o exemplo é força moral. Teoricamente qualquer pessoa pode assumir essa tarefa de falar publicamente e isso acontece em muitos centros espíritas. Mas o bom senso nos diz que nem todos estão preparados ou possuem o dom para desempenhar satisfatoriamente esse papel. Que cada um se desenvolva dentro das possibilidades apropriadas aos dons que Deus lhe concedeu. Em todos os setores da vida nos preparamos para desempenhar determinadas tarefas e a qualidade delas dependerá do nosso empenho em fazer a coisa bem feita e cada vez melhor. Na casa  espírita não pode e nem deve ser diferente.

E, como estamos lidando com situações mais sérias e graves, faz-se mister um preparo cuidadoso, principalmente na área moral, pois o trabalho de edificação do ser é tarefa que não podemos desenvolver com doutrinas de aparências. Não existe um perfil ideal do orador espírita, mas se fôssemos traçar um perfil mais adequado, poderíamos simplificar nas seguintes palavras: simplicidade e objetividade na arte de se comunicar e vida o mais reta e digna possível.

Resultados

Como em todo trabalho desenvolvido nas casas espíritas, a oratória também necessita de avaliações para sabermos quais os resultados e definir novos rumos. Uma maneira simples de avaliar este trabalho é observando a frequência do público nas reuniões públicas. Se elas estiverem se esvaziando o problema está na forma como a casa conduz a explanação da palavra. Esse assunto tem que ser estudado com carinho para que o centro espírita possa cumprir com seu papel de agente transformador, na sublime tarefa de despertar o homem para as coisas essenciais da vida.

Não se pode fechar os olhos quando nossa casa não tem público. A história corrente no meio espírita de que não faz diferença ter ou não público, pois as reuniões estão cheias de desencarnados, não faz o menor sentido e fica por conta dos que procuram uma justificativa para não submeter seus trabalhos a exames. Deixar como está para ver como fica pode resultar em perda de precioso tempo. Façamos, pois, uma reflexão em torno disso.

Observações

– Não se deve utilizar do recurso das pequenas palestras antes da exposição da noite. Isso atrapalha muito o orador, quando não acontece de antecipar o assunto de sua palestra.

– Os avisos, se houver, devem ser dados antes do início da reunião pública. Quando dados depois, prejudicam o clima de harmonia estabelecido pelo assunto ministrado e afastam a pessoa de sua reflexão em torno do mesmo.

– Os passes devem ser ministrados após a exposição. O hábito que muitas casas têm de trabalhar com o passe antes ou durante as palestras tumultua o ambiente, além de tirar da pessoa a oportunidade de receber instruções através dos ensinamentos ali ministrados.

– Deve-se evitar o hábito de entoar hinos, fazendo o público participar. Não podemos nos esquecer que uma reunião pública é, acima de tudo, uma sessão de estudos doutrinários destinados ao povo. Os hinos são resquícios que trazemos de nossas crenças de origem e muitas vezes obedecem verdadeiros rituais. Deveriam ser abolidos das reuniões públicas.

– As preces devem ser claras, curtas e objetivas. As exortações longas e cheias de rebuscamentos de linguagem podem não atingir os objetivos, além de prejudicar o recolhimento necessário nessa hora de comunhão com o mundo espiritual.

– Quando o orador for de outra casa espírita,  sua apresentação deve ser feita pelo dirigente da casa, usando de referências objetivas e diretas, evitando-se as exaltações personalistas.

– Evitar sempre tecer comentários sobre a palestra que acabou de ser proferida. Lembrar que ali foi feito um trabalho de conscientização do público, secundado pelos bons Espíritos. Esse hábito, na maioria das vezes, põe por terra todo o esforço do expositor em levar às pessoas a mensagem libertadora do Espírito.

Vanda Maria Simões

vanda@elo.com.br

(extraído do site https://espirito.org.br/palestras/reuniao-publica/)

domingo, 10 de outubro de 2021

Mensagem do Espírito Dr. Bezerra de Menezes sobre a data da mudança para Mundo de Regeneração

Mensagem do Espírito Dr. Bezerra de Menezes pela psicofonia do médium Divaldo Pereira Franco no dia 18/04/2010, no encerramento do 3º Congresso Espírita Brasileiro em Brasília/DF

 

“Estamos agora em um novo período, estes dias assinalam uma data muito especial, a data da mudança do mundo de provas e expiações para mundo de regeneração.

A grande noite que se abatia sobre a terra lentamente cede lugar ao amanhecer de bênçãos, retroceder não mais é possível.

Firmastes, filhas e filhos da alma, um compromisso com Jesus antes de mergulhares na indumentária carnal de servi‑lo com abnegação e devotamento, prometestes que lhe serias fiel, mesmo que vos fosse exigido o sacrifício.

Alargando‑se os horizontes deste amanhecer que viaja para a plenitude do dia, exultemos juntos, os espíritos desencarnados e vós outros que transitais pelo mundo de sombras; mas além do júbilo que a todos nos domina, tenhamos em mente as graves responsabilidades que nos exortam a existência do corpo ou fora dele.

Deveremos reviver os dias inolvidáveis da época do martírio nosso, seremos convidados não somente ao aplauso, ao entusiasmo, ao júbilo, mas também ao testemunho, o testemunho silencioso nas paisagens internas da alma, o testemunho por amor àqueles que não nos amam, o testemunho de abnegação no sentido de ajudar aqueles que ainda se comprazem em gerar dificuldades tentando inutilmente obstaculizar a marcha do progresso.

Iniciada a grande transição, chegaremos ao clímax e na razão direta em que o planeta experimenta as suas mudanças físicas, geológicas, as mudanças morais serão inadiáveis.

Que sejamos nós aqueles Espíritos Espíritas que demonstremos a grandeza do amor de Jesus em nossas vidas; que outros reclamem, que outros se queixem, que outros deblaterem, que nós outros guardemos, nos refolhos da alma, o compromisso de amar e amar sempre, trazendo Jesus de volta com toda a pujança daqueles dias que vão longe e que estão muito perto.

Jesus, filhas e filhos queridos, espera por nós, que seja o nosso escudo o Amor, as nossas ferramentas o Amor, e a nossa vida um Hino de Amor, são os votos que formulamos os Espíritos Espíritas aqui presentes e que me sugeriram representá‑los diante de vós.

Com muito carinho o servidor humílimo e paternal de sempre, Bezerra, muita paz filhas e filhos do coração.”

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Como fica a doutrina espírita após a retirada, em 10 de agosto de 2019, do artigo sobre as obras de J.-B. Roustaing, dos Estatutos da Federação Espírita Brasileira?

Em 1904, quando a FEB realizou no Rio de Janeiro, então capital da República, o evento para comemorar os 100 anos do nascimento de Allan Kardec, a defesa da obra Os quatro evangelhos dentro daquela instituição já estava estabelecida e foi este o motivo para que a instituição tentasse, com êxito parcial, introduzir a aceitação de tal obra nas conclusões do evento. O objetivo, então, era colocar a doutrina de Roustaing como a indicada para os estudos “relativos à fé” no que diz respeito ao espiritismo, considerando-a como superior aos Evangelhos segundo o espiritismo.

Diz-se que o êxito foi parcial porque a reação contrária à obra de Roustaing impediu a aceitação simples da proposta, determinando-se que ficaria a critério dos espíritas utilizar ou não Os quatro evangelhos, permanecendo, pois, com o estudo de O Evangelho segundo o espiritismo. Reconheça-se, mesmo que o êxito tenha sido parcial, foi uma vitória para os líderes da FEB de então e um desastre de grandes proporções para a doutrina espírita.

O fato, contudo, é que o grupo de espíritas que no Rio de Janeiro tomou a decisão de estudar e defender Os quatro evangelhos desde a década de 1880, de início pequeno, havia já logrado implantar tal obra na FEB quando no final do século XIX alcançou ali o poder. O objetivo do grupo era de espalhar o pensamento roustainguista para todo o Brasil e não fosse a reação firme de muitos espíritas esclarecidos teria alcançado tal desiderato.

Como mostram agora os estudos de Paulo Henrique Figueiredo com seu acesso ao acervo de Canuto de Abreu, ampliando sobremaneira a visão da situação do espiritismo ao final do século XIX e primeira metade do século XX, a FEB não era, inicialmente, constituída por defensores destas teses combatidas por Kardec já ao seu tempo, mas torna-se a porta-voz delas após a chegada ao poder daquele pequeno grupo.

A mudança estatutária que proporcionou a instalação de Roustaing no documento maior da FEB ocorreu em 1917 e desde então tornou-se oficial. Esta digressão se mostra necessária aqui para deixar explícito que a retirada da citação roustainguista dos Estatutos ocorre 102 anos após a sua fixação ali, tempo este que aumenta de mais de duas décadas quando se vê a penetração de Roustaing ainda antes do começo do século XX. Temos, assim, no mínimo 120 anos de presença das teses roustainguistas no movimento espírita brasileiro.

Um fato curioso ocorrido sábado, dia 10 de agosto, foi que a obra de Paulo Henrique Figueiredo – Autonomia, a história jamais contada do espiritismo – ao mesmo tempo que era lançada em São Paulo ocorria na FEB, em Brasília, a assembleia que discutia e ao fim logrou aprovar a retirada dos Estatutos da menção aos Quatro evangelhos e seu autor. E fica ainda mais interessante observar que esse livro apresenta, documentadamente, estudos e conclusões que põem por terra, em definitivo, qualquer argumento em defesa de Roustaing e sua doutrina. Atente-se para o termo – Autonomia – apresentado no livro, pois ele é a chave para o entendimento da diferença entre as teses defendidas por Roustaing e a obra espírita assinada por Allan Kardec.

Durante a palestra do autor, Paulo Henrique Figueiredo, no Centro Espírita Nosso Lar, em São Paulo, quando foi anunciada a decisão sobre Roustaing tomada em Brasília, a plateia não se conteve e aplaudiu efusivamente a supressão roustainguista dos Estatutos da FEB. Um sentimento contido por mais de século explodiu, num ambiente de profundas emoções, como a dizer que Roustaing nunca deveria existir no seio do espiritismo. Mas existiu e existe, e desde que aí está faz parte de uma história que não é simples e não se extingue apenas com a borracha que apaga palavras, mas não elimina as consequências dos fatos graves que tais palavras expressaram num tempo tão extenso quanto destrutivo.

Para entender a importância dos fatos e sua possível extensão, será preciso responder a questões amplas que se acham presentes, cultural e socialmente, no espiritismo brasileiro, a começar por uma necessária compreensão de que a doutrina roustainguista, defensora do pensamento heterônimo oposto ao pensamento autônomo expresso em Kardec, carreou para o meio espírita não simplesmente dissensões entre homens, mas profundas marcas cuja supressão não se dará, se o der, num espaço curto de tempo. Essas marcas se expressam por uma cultura que contaminou de maneira inequívoca a proposta dos Espíritos interpretada por Kardec, desenvolvendo um caldo de contradições que não se escoará senão com mudanças que demandam tempo, vontade e coragem.

A primeira pergunta está respondida com a eliminação de Roustaing dos Estatutos da FEB. Mas esta mudança é a coisa mais simples e menos importante de quantas são necessárias, embora tenha demorado mais de século para ocorrer. A da mudança cultural necessária à produção de efeitos duradouros será respondida apenas com o tempo. Entre elas, surgem outras questões tão graves quanto: a mudança estatutária é feita a partir do reconhecimento por parte da FEB do erro doutrinário em que incidiram? Ou simplesmente para atender ao pedido de troca de uma camisa suja por uma limpa, sem, contudo, tratar do corpo doutrinário adoecido? Se, porventura, a FEB estiver consciente do erro fará conhecer o movimento todo de modo direto e transparente dessa nova consciência, propondo mudanças amplas e necessárias à correção dos rumos? Se, entretanto, a FEB está agindo protocolarmente e politicamente, para sustentar por mais tempo o poder em suas mãos, sem nenhuma pretensão de extirpar o nódulo canceroso, tudo continuará como antes e a contradição entre a autonomia e a heteronomia prosseguirá alimentando a mentira na sua luta contra a verdade.

As consequências da adoção das teses anti-doutrinárias de Roustaing que desembocam na dominação são mais evidentes e desastrosas, de forma coletiva, do que se imagina. Contra a doutrina que destaca a Autonomia uma outra contrária se fez prevalecer, direcionando indivíduos e centros espíritas à subserviência e modulando de maneira inequívoca a sustentação da religiosidade amesquinhada, retrógrada, dependente, que hoje se manifesta por todos os lados, tornando ilhas isoladas as manifestações amparadas apenas e tão somente na proposta de Allan Kardec.

A heteronomia prevalecente mantém a direção de um espiritismo como religião instituída, contra tudo e contra todos os intérpretes dos significados colocados por Kardec, cuja compreensão do que representam as religiões tornou claras as oposições. A religião instituída é causa de dominação, enquanto o espiritismo é uma proposta de autonomia como base de evolução ou progresso. Aliada dos heterônomos, a FEB construiu todo um arcabouço ao longo dos mais de 100 anos de história, arcabouço sobre o qual se erigem ideias que vão de encontro às petições de autonomia amparadas nas Leis Naturais.

A instituição proeminente do espiritismo brasileiro, que tomou sobre si a condução dos rumos do movimento, trabalhou muito mais para manter o poder do que para colocar o espiritismo na rota das grandes ideias. Cuidou desde cedo de fazer prevalecer suas propostas coibindo e desestimulando ações progressistas. Colocou-se contra os eventos que poderiam causar-lhe desconforto, mesmo sabendo que eles eram necessários ao progresso do espiritismo. Condenou congressos até o momento em que os condicionou aos seus interesses, contribuindo para o estado deles nos tempos atuais, em que são eventos festivos, coloridos pelo consumo de bens e mitos.

O que se espera da FEB, quando decide alterar os seus Estatutos é a coragem de romper com o passado, assumindo os erros. Igual comportamento se espera daquelas instituições que, obedecendo ao comando da FEB, ajudaram a descaracterizar a doutrina da autonomia e instituir o seu contrário. Mas isso só o tempo dirá.

Fonte: https://www.expedienteonline.com.br/a-festa-o-embate-e-a-razao/